ECONOMIA


CVM aponta manipulação em ações da Ambipar com envolvimento de bilionários e Banco Master

Órgão identificou atuação combinada que inflou as ações em até 800%

Foto: Divulgação

 

A área técnica da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) concluiu que o empresário Nelson Tanure, o controlador da Ambipar, Tércio Borlenghi Jr., e o Banco Master, por meio da distribuidora Trustee, atuaram de forma “interdependente e coordenada” para manipular o preço das ações da Ambipar entre junho e agosto de 2024.

Segundo o parecer, as compras agressivas realizadas por fundos ligados a Tanure, como o Esna FIP, e pela Trustee ocorreram em paralelo ao programa de recompra de 20,8 milhões de ações da Ambipar (equivalente a 37% do free float). A estratégia impulsionou os papéis da companhia em até 800%, elevando sua capitalização de mercado para cerca de R$ 27 bilhões e gerando um ganho contábil de R$ 260 milhões, utilizado para quitar obrigações corporativas.

As motivações mapeadas pela CVM envolvem:

Reforçar garantias para Tanure adquirir a estatal Emae, por R$ 1,04 bilhão;

Valorizar o patrimônio de Borlenghi sem acionar, sozinho, a OPA obrigatória;

Melhorar o balanço do Banco Master, cujo patrimônio líquido dobrou para R$ 4,7 bilhões.

Como consequência, dois diretores da CVM, o presidente João Pedro Nascimento e a diretora Marina Copola, votaram para obrigar Borlenghi a lançar uma OPA em até 30 dias após a decisão final. O julgamento foi suspenso por pedido de vista do diretor Otto Lobo. Se mantida, a oferta pública poderá movimentar até R$ 4,5 bilhões, com preço-guia de R$ 159 por ação.

A Ambipar, Trustee/Banco Master e Esna FIP recorreram. No entanto, Tanure e as empresas não se pronunciaram sobre o caso. Para analistas, o caso pode se tornar precedente importante contra manipulações via “parcerias táticas” no mercado de capitais.