SAÚDE


Telemedicina avança na Bahia e atrai empresas com foco em produtividade e baixo custo

Para o médico Victor Almeida, a expansão acelerada do atendimento digital reflete mudanças tecnológicas, regulatórias e culturais mas ainda enfrenta barreiras de acesso e alfabetização digital

Foto: Reprodução/Freepik

 

A pandemia funcionou como uma espécie de “reset” na forma como o Brasil enxerga a telemedicina. Antes vista com desconfiança por parte de médicos, pacientes e até conselhos profissionais, a modalidade ganhou espaço a partir da experiência forçada vivida entre 2020 e 2022. Para o médico Victor Almeida, fundador da startup baiana Merece Saúde, a crise sanitária deixou um recado claro: consultas virtuais salvam vidas, evitam sobrecarga no sistema e agilizam o atendimento de casos simples. A partir desse impacto, o país regulamentou definitivamente a prática em 2022, abrindo caminho para sua popularização.

“Ela vem no contexto de regulamentação inicial, da própria telemedicina que aconteceu no final de 2022, depois da excelente experiência que nós tivemos durante a pandemia. A telemedicina mostrou ser eficiente, salvou vidas e evitou a piora da sobrecarga”, afirmou em entrevista ao MundoBA.

Segundo Almeida, a adoção crescente ocorre porque a telemedicina se firmou como complemento, e não substituta, da consulta presencial. Casos de renovação de receita, sintomas comuns ou dúvidas rápidas podem ser resolvidos em minutos, sem deslocamento e sem pressionar UPAs e prontos-atendimentos. 

“A Merece Saúde vem com esse foco muito grande para o corporativo, oferecendo melhora no absenteísmo e no presenteísmo. Nós oferecemos 15 especialidades de saúde. Qualquer necessidade, a pessoa acessa o sistema, entra numa fila virtual e em até 10, 15 minutos será atendida”, afirma. Outro fator é o custo: plataformas digitais conseguem resolver cerca de 80% das demandas básicas, reduzindo despesas de usuários, empresas e do próprio sistema de saúde.

Apesar do avanço tecnológico, a cultura ainda é um entrave, especialmente entre pessoas com pouca familiaridade digital. O médico aponta que, para contornar essa barreira, soluções como clínicas móveis, atendimento híbrido com suporte de técnicos e acesso facilitado em regiões isoladas têm ganhado espaço.

Para contornar esse cenário, o plano é ampliar o time médico, aumentar especialidades e conquistar tanto empresas quanto prefeituras. Ele destaca que municípios de diferentes estados já utilizam modelos semelhantes dentro do SUS, e que a Bahia tem potencial para aderir. “A nossa expectativa é poder ganhar mais campo aqui dentro da Bahia, inicialmente, mas a gente não está limitado ao estado. Como telemedicina tem capacidade de atendimento sem fronteiras, queremos expandir para todo o território nacional”, afirma.

A pluralidade de serviços disponíveis também tem impulsionado o setor. Além de clínicos gerais 24 horas, muitas plataformas já oferecem especialidades via agendamento. No caso da Merece Saúde, Almeida destaca as especialidades em nutrição e psicologia, áreas que observam demanda crescente por conta do aumento de doenças crônicas e transtornos mentais, além de acesso ao plano pet, com veterinários disponíveis por 24h.

Para os próximos anos, o médico acredita em um avanço ainda maior da telemedicina no país, tanto no setor privado quanto no público. Ele vê potencial especial no atendimento a regiões remotas e no apoio a municípios que enfrentam dificuldades para fixar especialistas. “A pandemia deu um reset nesse pensamento. Hoje não há dúvida de que a telemedicina é complementar, útil e necessária”, completa.