SAÚDE


Iniciativa leva tratamento da doença de Chagas para mais perto dos pacientes

Atendimento descentralizado melhora adesão e acelera o diagnóstico

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Um novo protocolo para o controle da doença de Chagas está sendo testado no Sertão do Pajeú, em Pernambuco, região com alta prevalência da enfermidade. O projeto-piloto “Quem tem Chagas, tem pressa” aposta na descentralização do tratamento, permitindo que ele seja feito na própria cidade do paciente. Hoje, a maioria precisa viajar até unidades especializadas, como a Casa de Chagas, no Recife.

Um dos principais avanços é o uso de testes rápidos, que dão resultado em minutos, contra até 45 dias dos exames de sorologia feitos na capital. “A gente precisa muito descentralizar o diagnóstico e fazer essa detecção mais precocemente, para que haja menos casos de pacientes crônicos”, afirma a gerente de Vigilância das Arboviroses e Zoonoses da Secretaria de Saúde de Pernambuco, Ana Márcia Drechsler.

Na primeira fase, cerca de mil moradores de Triunfo e Serra Talhada foram testados, e 9% tiveram diagnóstico positivo, quase o dobro da média nacional, de 2% a 5%. “No centro de referência, temos doentes que precisam andar até 800 quilômetros para serem atendidos. Muitos poderiam ser tratados perto de casa”, diz o médico Wilson Oliveira, da Casa de Chagas e responsável pelo projeto.

Causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi, a doença de Chagas pode ser transmitida pelo inseto barbeiro, pela ingestão de alimentos contaminados, transfusão de sangue ou de mãe para filho. A infecção é silenciosa e, sem tratamento precoce, pode causar problemas cardíacos e digestivos graves, levando à morte cerca de 4,5 mil brasileiros por ano, segundo o Ministério da Saúde.

O agricultor Roberto Barbosa, morador de Triunfo, descobriu a doença apenas na idade adulta. “O fôlego começou a faltar, o cansaço a se instalar… Tive até um princípio de infarto”, relata. Hoje, ele usa marcapasso e atua na associação de pacientes para alertar a comunidade.

A Novartis, parceira institucional da iniciativa, pretende expandir o modelo para outras áreas endêmicas. “A experiência no Sertão do Pajeú tem potencial para ser replicada em todo o país, promovendo equidade e prevenção no cuidado”, afirma Michelle Ehlke, diretora de Saúde Global da empresa.