SALVADOR


Traficante com vida de ‘luxo’ em presídio fugiu 24h após Seap desobedecer veto à transferência em 2023

Polícia Civil instaurou inquérito para investigar mordomias; pasta de administração penitenciária não respondeu se houve responsabilizações sobre fuga

Fotos: Divulgação/Seap

 

Apontado como um dos traficantes mais procurados da Bahia, Fábio Souza dos Santos, o Geleia, está foragido desde 21 de outubro de 2023 —24 horas após ter sido transferido para um prédio em condições vulneráveis do presídio Lemos Brito, na Mata Escura, em Salvador.

Em 29 de agosto de 2023, a juíza Jeine Vieira Guimarães havia proibido qualquer tipo de benefício a Geleia, incluindo eventuais transferências. A ordem foi descumprida.

Procurada pelo MundoBA nesta quarta-feira (23), a Seap disse ter aberto uma sindicância interna à época e instaurado um PAD (Processo Administrativo Disciplinar) para apurar as circunstâncias da fuga. Sob gestão do governo Jerônimo Rodrigues (PT), a pasta, no entanto, não esclareceu se houve possíveis responsabilizações ou conclusão do procedimento.

A pasta informou que, no mesmo dia, fez uma operação no módulo V com objetivo de retirar objetos ilícitos que porventura estivessem em circulação na unidade e colaborou com as investigações da Polícia Civil, que seguiram em curso.

Líder da facção BDM (Bonde do Maluco) com atuação em Camaçari e Candeias, cidades da região metropolitana, Geleia é um dos detentos da unidade que gozavam de mordomias regadas a uísque, perfumes importados, camas individuais, móveis planejados, televisão e até banheiro privativo.

As regalias foram descobertas após uma inspeção realizada naquele mesmo ano pela Seap (Secretaria de Administração Penitenciária e Ressocialização), segundo reportagem publicada pelo jornal Correio na segunda-feira (21). A Polícia Civil abriu um inquérito para investigar o caso.

Poucos dias antes de fugir, o líder do BDM cumpria pena no CPM (Conjunto Penal Masculino), unidade mais moderna e de segurança máxima do complexo penitenciário da capital. A transferência foi assinada por Clésio Rômulo Atanásio Sobrinho, então diretor do CPM. Além de Geleia, outros seis comparsas também conseguiram escapar.

A juíza Jeine Vieira Guimarães afirmou que a transferência do detento não havia sido comunicada ao Judiciário.

Após pedidos de esclarecimentos da Justiça, a Seap (Secretaria de Administração Penitenciária) informou que a transferência atendia a determinação da Lei de Execução Penal e fazia parte de uma medida de inteligência, estratégica e normal dentro da administração penitenciária devido à concentração de lideranças criminosas.

Ao todo, foram realizadas mais de 3 mil movimentações de internos em Salvador e no interior do estado.

Dois dias depois, em 23 de outubro, uma operação da Polícia Civil desarticulou um bunker pertencente a Geleia e apreendeu aproximadamente meia tonelada de drogas, entre maconha, crack e cocaína, dois fuzis calibres 5.56 e 7.62 e milhares de munições. O imóvel estava localizado em Candeias.

Durante a ação, investigadores foram recebidos a tiros. Um investigador foi atingido, mas sem gravidade.

Um dos criminosos morreu durante o confronto. Dois homens e duas mulheres que estavam no imóvel de Geleia foram presos.

Entre suas anotações policiais, Geleia é investigado como um dos responsáveis pela morte do policial civil Luiz Alberto dos Santos, em outubro de 2017. O agente foi executado a tiros após ter o carro cercado no bairro da Jardim das Margaridas, em Salvador.

O líder do BDM também foi denunciado pelo Ministério Público como mandante da morte do percussionista Renato Santos Evangelista Sobrinho, em novembro de 2021, em Catu de Abrantes, Camaçari. De acordo com as investigações, traficantes da região decidiram assassiná-lo por morar em Portão, bairro de Lauro de Freitas onde atuavam criminosos de uma facção rival.

Atualmente, o rosto do traficante estampa a carta Oito de Ouros do Baralho do Crime da SSP (Secretaria de Segurança Pública), que reúne informações dos foragidos mais perigosos da Bahia.