POLÍTICA


Oposição se divide após tarifaço de Trump: ‘Tiro no pé’, avalia líder no Senado

Clima entre os parlamentares, segundo blog, foi de frustração após a decisão do presidente dos EUA

Foto: Agência Brasil/Arquivo

Líderes da oposição convocaram uma reunião de emergência para discutir os impactos do tarifaço de 50% imposto pelos Estados Unidos às importações brasileiras, anunciado pelo presidente Donald Trump. O clima entre os parlamentares, no entanto, foi de frustração. “Foi um tiro no pé. Quem é que vai ser a favor disso? Quem é que vai ficar contra o país?”, relatou um senador à jornalista Daniela Lima, do G1.

Trump anunciou as sanções comerciais na quarta-feira (9), citando o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) logo no primeiro parágrafo e condicionando a suspensão das tarifas à interrupção do julgamento do líder da direita no Supremo Tribunal Federal (STF). O gesto foi visto com preocupação por integrantes da oposição e por parte da própria direita.

Além disso, conforme o mesmo interlocutor, o presidente norte-americano errou em pontos básicos — atualmente, o Brasil compra mais dos EUA do que vende. E o déficit comercial com os americanos é realidade desde 2009.

Eduardo Bolsonaro se complica

O episódio se agravou com a divulgação de um vídeo do deputado licenciado Eduardo Bolsonaro, no qual ele se apresenta como um dos responsáveis pelas sanções. Na gravação, o parlamentar endossa críticas ao ministro Alexandre de Moraes e ao STF, e afirma que atuou para pressionar o governo dos EUA a reagir ao que considera abusos no Judiciário brasileiro.

A repercussão foi negativa até entre aliados. “Erro grosseiro, erro gravíssimo. Vai ter um custo isso para a imagem”, avaliou um aliado próximo à família Bolsonaro.

Ministros do Supremo veem na gravação um risco jurídico para Eduardo Bolsonaro, que já é investigado por obstrução de Justiça. Segundo fontes da Corte, o vídeo pode reforçar as suspeitas de que o deputado atuou deliberadamente para sabotar decisões do Judiciário brasileiro no exterior.

Direita dividida

Diante da crise, setores mais moderados da direita tentam reagir apontando responsabilidades ao governo Lula, como fez o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que criticou a condução diplomática da atual gestão.

No entanto, mesmo parlamentares dessa ala admitem que a retórica bolsonarista pró-sanções ao STF compromete a narrativa. “Ficou muito difícil colar que a culpa é do Lula depois de meses pedindo intervenção americana”, confidenciou um deputado da oposição.

Levantamentos recentes, como a pesquisa Nexus, mostram que a defesa da soberania nacional — reforçada por aliados de Lula — tem mais apelo popular do que o discurso de que a crise foi causada por uma suposta guinada ideológica na política externa brasileira.

Com isso, aliados do Planalto já enxergam na crise uma oportunidade de reposicionamento: apresentar o presidente como defensor da soberania e enquadrar a família Bolsonaro como “traidora da pátria”. “O saldo é ruim, muito ruim”, admitiu um interlocutor bolsonarista.