POLÍTICA


Julgamento de Bolsonaro no STF deve girar em torno de delação de Cid, enquadramento penal e tentativa de golpe

Ex-presidente responde por cinco crimes no Supremo; primeira turma inicia análise do processo nesta terça-feira (2)

Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Marcado para começar nesta terça-feira (2), o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no Supremo Tribunal Federal (STF) deve concentrar-se em três pontos centrais de controvérsia jurídica: a validade da delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, a sobreposição de crimes e a caracterização da tentativa de golpe de Estado. O caso será analisado pela Primeira Turma da Corte, formada por cinco ministros, tendo o relator Alexandre de Moraes à frente do processo.

Bolsonaro é acusado de tentativa de golpe de Estado, dano qualificado, organização criminosa armada, deterioração de patrimônio tombado e tentativa de abolição violenta do Estado democrático de Direito. Até agora, apenas o ministro Luiz Fux sinalizou a possibilidade de divergir do relator, o que pode gerar um julgamento dividido.

Um dos pontos mais aguardados é a análise da delação de Cid, que também será julgado. O ex-ajudante de ordens de Bolsonaro apresentou versões contraditórias em diferentes momentos, especialmente em relação ao papel de figuras como o ex-ministro Walter Braga Netto. Para os ministros, estarão em discussão dois aspectos: a credibilidade do delator e a voluntariedade de suas declarações.

Outro tema que deve ganhar destaque é o enquadramento penal dos acusados. Desde os primeiros julgamentos sobre os atos de 8 de janeiro, juristas e magistrados discutem se os crimes de tentativa de golpe de Estado e de abolição violenta do Estado democrático de Direito não configuram sobreposição — uma situação conhecida como consunção, quando um delito absorve o outro.

Essa definição terá impacto direto nas penas. A tentativa de golpe de Estado prevê reclusão de 4 a 12 anos, enquanto a de abolição violenta do Estado democrático de Direito varia de 4 a 8 anos. Especialistas avaliam que o Supremo, ao se debruçar sobre o caso de Bolsonaro, pode estabelecer um precedente importante para as demais ações relacionadas ao 8 de Janeiro.