Ex-chefe da FAB confirma reunião golpista e reitera que general ameaçou prender Bolsonaro
Fala do Brigadeiro Baptista Júnior foi feira nesta quarta (21) em depoimento ao STF

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
O ex-chefe da Aeronáutica Carlos de Almeida Baptista Júnior confirmou nesta quarta-feira (21) que o general Freire Gomes comunicou ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) que teria de prendê-lo caso avançasse com planos golpistas contra a eleição de Lula (PT). A versão foi reiterada durante depoimento ao STF (Supremo Tribunal Federal).
“Confirmo sim senhor. Acompanhei anteontem a repercussão [do depoimento de Freire Gomes], estava chegando de viagem. Freire Gomes é uma pessoa polida e educada, não falou com agressividade, ele não faria isso. Mas é isso que ele falou. Com muita tranquilidade, calma, mas colocou exatamente isso. ‘Se fizer isso, vou ter que te prender’”, disse Baptista Júnior, segundo o jornal Folha de S. Paulo.
Baptista Júnior diz que não viu discordância entre o que ele disse em depoimento e o que relatou o próprio general Freire Gomes, ex-chefe do Exército, ao STF na segunda-feira (19).
O então comandante do Exército disse que não ameaçou Bolsonaro nem deu ordem de prisão. O general diz que somente indicou a Bolsonaro que ele poderia ser “enquadrado juridicamente” caso adotasse uma medida ilegal. E que o Exército “não iria atuar em algo que iria extrapolar nossa competência constitucional”.
Na versão de Baptista Júnior, os relatos dos dois ex-chefes militares não são contraditórios porque não houve ameaça ou voz de prisão, mas um comunicado sobre os impactos jurídicos de eventual tentativa de golpe de Estado.
O brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Júnior foi escolhido por Bolsonaro para comandar a Aeronáutica após uma crise militar. Os chefes das Forças Armadas decidiram deixar os cargos em 2021 após o então presidente demitir o ministro da Defesa, general Fernando Azevedo, alegando falta de apoio dos militares em suas investidas na pandemia.
Por sua participação nas redes sociais, Baptista Júnior acabou sendo marcado como o mais bolsonarista dos comandantes das Forças. A pecha acabou revertida após o próprio ex-comandante dar detalhes à Polícia Federal sobre as intenções golpistas de Bolsonaro e aliados no fim de 2022.
Segundo a Folha de S. Paulo, além do de Freire Gomes, o depoimento do brigadeiro foi uma das bases da denúncia no ponto sobre a chamada “minuta do golpe”. O documento teria sido apresentado aos chefes das Forças Armadas em busca de adesão em ao menos duas reuniões —em 7 de dezembro de 2022, pelo próprio Bolsonaro, e em 14 de dezembro, pelo ministro da Defesa, o general da reserva Paulo Sérgio Nogueira.