POLÍTICA


Condenado a 21 anos, general Augusto Heleno diz que apenas ‘aguarda ser preso’

Ex-ministro do GSI mantém rotina de caminhadas em Brasília enquanto espera execução da pena definida pelo STF  

Foto: Geraldo Magela/Agência Senado

Aos 78 anos, o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) Augusto Heleno segue uma rotina diária de exercícios na quadra onde mora, em Brasília, enquanto espera o cumprimento da pena de 21 anos de prisão à qual foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O general, que respondeu com serenidade à abordagem da CNN nesta sexta-feira (21), afirmou considerar inevitável o início da execução da condenação: “Agora é só esperar eles virem me pegar.” 

Moradores da região relatam que Heleno se tornou uma espécie de figura conhecida no local, sobretudo por viver em uma área predominantemente ocupada por militares da ativa e da reserva. Durante as caminhadas e treinos na academia pública da quadra, o ex-ministro costuma ser cumprimentado por vizinhos, que às vezes pedem fotos e conversam com ele. 

A conversa com a CNN durou cerca de 10 minutos e ocorreu enquanto Heleno caminhava. Segundo a emissora, ele se mostrou disposto ao diálogo e respondeu às perguntas sem demonstrar desconforto. O general voltou a afirmar que não ordenou nem participou de qualquer ação relacionada ao plano golpista investigado pelo STF, alegando ter passado o dia 8 de janeiro de 2023 em casa, “horrorizado” com os ataques às sedes dos Três Poderes. 

Ele também disse acreditar, embora sem apresentar provas, que os atos possam ter sido “orquestrados” por adversários do governo da época. Negou ainda envolvimento ou conhecimento sobre supostas irregularidades na Agência Brasileira de Inteligência (Abin), então subordinada ao GSI, mas comandada na prática por Alexandre Ramagem. Hoje deputado federal, Ramagem está foragido nos Estados Unidos e teve a prisão decretada pelo ministro Alexandre de Moraes. 

Heleno comentou ainda sobre o clima de polarização política no país e lamentou o ambiente atual. Defendeu a atuação dos chamados “Kids pretos”, militares de elite do Exército, embora tenha negado qualquer vínculo com o grupo, condenado pelo STF por planejar atentados contra autoridades, incluindo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes. 

A condenação de Heleno e de outros investigados foi definida em 11 de setembro pela Primeira Turma do STF. A pena inclui regime inicial fechado e 84 dias-multa. A idade do general foi considerada atenuante por Moraes, Dino, Cármen Lúcia e Zanin; o ministro Luiz Fux votou pela absolvição e não integrou a dosimetria da pena. 

Por ser militar da reserva, Augusto Heleno ainda pode perder a patente, decisão que será analisada pelo Superior Tribunal Militar (STM). Sua defesa teve recursos rejeitados no dia 16 de novembro e ainda tem prazo para apresentar novos argumentos. 

Questionado sobre a possibilidade de reverter o caso, Heleno foi direto: “não acredita em mudança no cenário e apenas acompanha os desdobramentos à espera do cumprimento da decisão judicial”.