POLÍTICA


Capitão Alden é citado em inquérito da PF contra Bolsonaro e critica ‘vazamento’ de conversa com ex-presidente

Segundo a PF, Capitão Alden teria sido orientado por Bolsonaro "sobre como proceder para a exposição de sua imagem"

Foto: Reprodução/Instagram @capitao_alden

O deputado federal Capitão Alden (PL-BA) foi citado pela Polícia Federal (PF) no inquérito que indiciou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por obstrução das investigações sobre a trama golpista que previa um golpe de Estado após as eleições de 2022. Segundo a PF, Bolsonaro pediu a Alden, em conversa por WhatsApp, que realizasse uma chamada de vídeo durante uma manifestação em Salvador, no último dia 3. Para os investigadores, o episódio demonstra o “modus operandi de utilização de terceiros para burlar a medida cautelar” que impedia o ex-presidente de usar redes sociais.

Em nota divulgada nesta quinta-feira (21), Alden afirmou que a conversa se tratou apenas de uma saudação do ex-presidente ao povo baiano, sem qualquer ato ilícito. O parlamentar também argumentou que a restrição a Bolsonaro não poderia se estender a entrevistas ou falas reproduzidas por terceiros. “Defender que Bolsonaro está proibido de dar entrevistas, se estas forem reproduzidas nas redes sociais por terceiros, enquanto deputado, reafirmo ser temerário”, disse. Ele lembrou ainda que o presidente Lula, quando condenado, não foi proibido de conceder entrevistas.

De acordo com a investigação, Alden estava prestes a discursar no ato e perguntou a Bolsonaro se ele poderia mandar um áudio para ser reproduzido no carro de som. O ex-presidente respondeu que, se falasse algo, poderia ter problemas judiciais, mas sugeriu uma alternativa:

“Você pode ligar para mim na imagem falando: ‘Estou aqui com a imagem do Bolsonaro, ele está mandando abraço a todos vocês e parabenizando’. Aí você pode. Você fala. Eu não posso falar, não. Valeu”, disse Bolsonaro, conforme a PF. Na sequência, Alden perguntou se poderia ligar em cinco minutos, ao que recebeu resposta positiva. A ligação foi realizada às 12h10, com duração de 14 segundos. Posteriormente, Bolsonaro enviou um vídeo curto ao deputado, no qual apenas cumprimenta os manifestantes. O material foi publicado no perfil de Alden no X (antigo Twitter).

Os investigadores apontam que, apesar de demonstrar cautela em não descumprir diretamente a decisão do STF, Bolsonaro teria orientado o deputado sobre como expor a imagem do ex-presidente em manifestações, configurando tentativa de driblar as restrições impostas.

Confira na íntegra a nota divulgada por Capitão Alden (PL-BA):

“Nota Oficial à Imprensa – Sobre citação em inquérito do STF e vazamento de conversa com Bolsonaro

Em razão das recentes reportagens que citam meu nome em um inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF), em virtude de uma conversa com o presidente Jair Bolsonaro no último dia 3 de agosto, durante as manifestações legítimas pela liberdade em todo o Brasil, venho a público esclarecer:

1. O conteúdo da conversa nada mais foi do que uma saudação do presidente ao povo baiano, enviada por mim como porta-voz de milhares de cidadãos que estavam nas ruas, de forma pacífica, defendendo a democracia, a liberdade de expressão e o respeito à Constituição.

2. Não há qualquer ato ilícito nessa troca de mensagens. A manifestação foi pública, cívica e amparada pelo direito constitucional de livre reunião e livre manifestação do pensamento.

3. Defender que Bolsonaro está proibido de dar entrevistas, se estas forem reproduzidas nas redes sociais por terceiros, enquanto deputado, reafirmo ser temerário. Lembremos de direitos como liberdade de imprensa, o direito à informação e o livre exercício da política.

4. Nem mesmo chefes de facções criminosas ou condenados por corrupção, como o presidente Lula, tiveram essa medida imposta. Aliás, Lula foi autorizado por decisão do ministro Lewandowski a dar entrevistas enquanto estava preso e condenado em segunda instância por corrupção e lavagem de dinheiro. Lembremos que Bolsonaro sequer foi julgado ou condenado, e, em minha opinião enquanto deputado, tampouco descumpriu qualquer das condições que, legalmente, poderiam justificar medidas tão graves, como risco de fuga ou obstrução da Justiça.

5. Me manifesto e sempre o fiz enquanto deputado federal, no exercício pleno do mandato, e, segundo a Constituição, dentro dos limites da responsabilidade do cargo a mim confiável, gozando de prerrogativas como a inviolabilidade por palavras, opiniões e votos. Se está acontecendo comigo — tendo conversas privadas expostas ilegalmente — quem dirá com um cidadão comum!”