CACHOEIRA


Festa da Irmandade da Boa Morte recebe título federal de promoção da igualdade racial

Participaram das celebrações desta sexta-feira (15), a ministra da Cultura, Margareth Menezes, as primeiras-damas Janja Lula da Silva e Tatiana Velloso

Foto: Wuiga Rubini/GOVBA

Há mais de 200 anos, a ancestralidade se faz presente em Cachoeira, quando, no mês de agosto, começam as festividades em homenagem a Nossa Senhora da Boa Morte. Nesta sexta-feira (15), a primeira-dama do Brasil, Janja da Silva, a primeira-dama da Bahia, Tatiana Velloso, ministras e secretários de Estado participaram da cerimônia na sede da Irmandade da Boa Morte, local onde os festejos acontecem desde 1820, para entregas e anúncios voltados à cultura popular, aos povos de terreiro e à promoção da igualdade racial.

Para a ministra da Cultura, Margareth Menezes, a festa tem grande relevância histórica e social. “A Festa da Boa Morte tem uma importância muito grande por tudo que já entregou para a sociedade brasileira, resgatando a história, em outros tempos comprando a liberdade de pessoas escravizadas. É uma história muito comovente. É uma comunidade de mulheres, um movimento de mulheres defendendo a liberdade, defendendo os direitos humanos”, afirmou.

Antes do tradicional cortejo com 48 mulheres da Irmandade, foi entregue o Prêmio do Ministério da Cultura à sambista tradicional Dona Dalva. Foram anunciadas obras do PAC Cidades para a casa de samba da sambista e para o Terreiro Ilê Axé Icimimó. Dona Dalva também foi anunciada como provedora da Festa da Boa Morte de 2026. O terreiro recebeu ainda uma placa de tombamento concedida pelo Iphan.

Entre os anúncios para Cachoeira, o município aderiu à política de Povos de Terreiro do Governo Federal e ao Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial (SINAPIR), junto com outras 12 prefeituras da Bahia. A prefeita de Cachoeira, Eliana Gonzaga, destacou a importância de representar os municípios e combater o racismo. “É uma alegria estar representando aqui os municípios da Bahia e assumindo essa responsabilidade de combater o racismo, não só em Cachoeira, mas em todo o país”, disse.

Na Igreja da Matriz de Cachoeira, as autoridades participaram da missa solene, e Janja da Silva e as ministras foram homenageadas pela Irmandade pela contribuição às políticas de valorização da cultura. O secretário da Cultura da Bahia, Bruno Monteiro, ressaltou o valor histórico da festa.

“O Governo do Estado reconhece essa festa como patrimônio imaterial da Bahia desde 2010 e, com muito respeito, nós construímos a cada ano em diálogo com as irmãs da Boa Morte. A nossa participação e o nosso apoio acontecem com um diálogo muito respeitoso com as nossas senhoras, que representam gerações de mulheres negras que, desde a escravização, lutam pela liberdade”, afirmou.

A Irmandade também recebeu o título de Promotora da Igualdade Racial pelo Governo Federal. A tradição afro-católica, conduzida exclusivamente por mulheres negras, surgiu no século XVII em Salvador e se transferiu para Cachoeira durante conflitos na capital baiana. Para a provedora deste ano, Irmã Neci Santos Leite, presente há 17 anos na Irmandade, a entidade sempre buscou uma partida digna para pessoas vulneráveis e a preservação da liberdade.

“É o nosso reconhecimento de uma alforria. Isso foi uma busca, uma luta nossa ao longo dos séculos e começou com nossos ancestrais escravizados. Pessoas escravizadas não tinham direito a uma morte digna, eram jogadas em uma vala, de qualquer jeito, para os bichos destruírem. Então, nossa busca foi sempre por dignidade e por liberdade”, contou Irmã Neci, que, junto com outras integrantes, assume anualmente os cargos de provedora, procuradora, tesoureira e escrivã, organizando os rituais e atividades culturais da festa.