JUSTIÇA


China Desk no Nordeste: ponte jurídica e estratégica para investimentos chineses na Bahia

O Nordeste vem se tornando um destino estratégico para investimentos chineses em setores como infraestrutura, logística, energia renovável, celulose e automóveis

Foto: Assessoria

Com o avanço dos investimentos chineses em setores como infraestrutura, energia renovável e indústria no Nordeste, empresas baianas enfrentam o desafio de se adaptar a práticas corporativas e exigências contratuais internacionais. Em entrevista à Lex Legal, o advogado Ermiro Ferreira Neto defende a criação de um China Desk como solução para facilitar a integração entre investidores estrangeiros e o ecossistema empresarial local, promovendo segurança jurídica, eficiência regulatória e competitividade regional.

O Nordeste vem se tornando um destino estratégico para investimentos chineses em setores como infraestrutura, logística, energia renovável, celulose e automóveis.

Os investimentos chineses têm longo prazo. Vê-se isto nas escolhas por setores como infraestrutura, energia, celulose e indústria.
“Empresas baianas já estão se inserindo no ecossistema criado por empresas como a BYD, Bracell, Ponte Salvador – Itaparica e outras. Este movimento tende a se aprofundar nos próximos anos, o que é muito positivo. Por outro lado, é preciso cuidado com a mobilização de recursos e equipes para atender esta alta demanda. A dependência excessiva pode causar problemas em caso de substituição de empresas locais por outras empresas chinesas que queiram vir para cá prestar serviços para os quais já são contratadas lá, com construtoras por exemplo”, pontuou o sócio de Fiedra, Britto e Ferreira Neto, doutor em direito civil, Ermiro Ferreira, que também é professor de direito civil e imobiliário na Faculdade Baiana de Direito.

Em relação aos desafios jurídicos enfrentados pelas empresas brasileiras ao se integrar a projetos com investidores chineses. O jurista afirma que contratos firmados no Brasil seguem usualmente a lei brasileira. “O desafio jurídico não é propriamente quanto a lei, mas sim quanto a práticas. É necessário um alinhamento cultural, com boa comunicação e contratos claros. Um China Desk, com participação de entidades empresariais e do Poder Público pode contribuir para fazer esta ponte”, relata Ermiro.

A adoção de práticas corporativas chinesas no Brasil representa uma oportunidade de inovação, mas podem esbarrar em conflito cultural e regulatório. Nesta fricção entre culturas tão diferentes, mas de empresas e empresários que querem tanto crescer no Brasil, há uma janela de oportunidade para todos. Por outro lado, grandes grupos chineses estão mais ocidentalizados do que se pode imaginar, de modo que as práticas não são mais diferentes do que seria com relação a uma empresa norte-americana, por exemplo.

Nesse sentido , surge um questionamento: A criação de um China Desk pode fortalecer a competitividade das empresas nordestinas frente a grandes projetos internacionais? O advogado Ermiro diz que a chegada destes grupos abre uma janela de oportunidades. “Poderiam explorar a possibilidade de criar um escritório de negócios que viabilize a interação com empresas locais e obtenção de todas as licenças em um só balcão, com auxilio de especialistas. Este seria um diferencial importante na atração de investimentos chineses”, pontuou.

Pode-se dizer que o Nordeste está preparado institucionalmente e tecnicamente para absorver e potencializar os investimentos chineses, ou ainda há lacunas que precisam ser preenchidas. “Temos profissionais e especialistas em todos os níveis de classe internacional. Naturalmente existem algumas lacunas, que de resto existiriam em qualquer lugar do país, e que são inferiores aos bônus (logística, custo, mercado consumidor, etc). Com organização e foco, e trabalho conjunto das entidades empresariais e do Poder Público, muitos negócios, em diferentes níveis, se beneficiarão da presença do capital chinês na nossa região”, conclui Ermiro Ferreira.

Diante desse cenário promissor, a criação de um China Desk no Nordeste não apenas responde às demandas jurídicas e operacionais dos grandes projetos internacionais, como também simboliza uma nova etapa de maturidade institucional da região.

Ao unir expertise local, articulação pública e compreensão intercultural, essa estrutura pode consolidar o Nordeste como um polo estratégico de atração de investimentos chineses, com impactos duradouros na economia, na geração de empregos e na internacionalização das empresas baianas.