ECONOMIA


SUS gastou R$ 449 milhões com vítimas de acidentes de trânsito em 2024, aponta Ipea

Montante inclui atendimentos de emergência, cirurgias, reabilitação prolongada e fornecimento de órteses e próteses

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

O Sistema Único de Saúde (SUS) desembolsou R$ 449 milhões no ano passado com internações e tratamentos de vítimas de acidentes de trânsito no Brasil, segundo levantamento inédito do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) com base em dados do Datasus, obtidos pelo G1.

O montante inclui atendimentos de emergência, cirurgias, reabilitação prolongada e fornecimento de órteses e próteses. Para efeito de comparação, o valor seria suficiente para comprar 1.320 ambulâncias do SAMU — cerca de 50 por estado. É quase quatro vezes mais do que o previsto no Novo PAC Saúde, que prevê a aquisição de 350 unidades para atender 5,8 milhões de pessoas.

Desde 1998, os gastos hospitalares com vítimas do trânsito cresceram quase 50% em termos reais, acompanhando o aumento do número de veículos e acidentes. Para especialistas, a escalada reflete um modelo de mobilidade centrado no transporte individual, sem contrapartida em políticas de prevenção e segurança.

“Os países criaram a terra fértil para o modelo individual, em detrimento do coletivo, mas não se prepararam devidamente para isso. É um modelo de mobilidade que gera colapso, tanto do ponto de vista da segurança quanto da eficácia. O resultado é um sistema caro, ineficaz e perigoso”, afirmou à mesma publicação Victor Pavarino, oficial técnico em segurança viária da OPAS/OMS.

Ricardo Pérez-Núñez, assessor regional da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), acrescenta que parte desses custos poderia ser evitada com prevenção. “Estamos gastando para reparar os danos da insegurança, em vez de investir na prevenção e garantir que vidas não sejam perdidas por essa causa”, disse também ao G1.

O SUS ainda enfrenta outro desafio financeiro: desde 2021, deixou de receber os repasses do extinto seguro DPVAT, que destinava 45% da arrecadação para custear o atendimento hospitalar de vítimas de acidentes de trânsito. Esses repasses chegavam a ultrapassar R$ 580 milhões por ano.