ECONOMIA


Operação BRB-Master ocorreu por ‘pura camaradagem’ e para ‘abafar fiscalização’, diz PF

De acordo com a investigação, entre julho de 2024 e outubro de 2025, BRB e Master realizaram operações que somaram R$ 16,7 bilhões

Foto: Banco Master

 

A investigação da Polícia Federal que levou à prisão Daniel Vorcaro, dono do Master, e outros dirigentes do banco, além do afastamento do presidente do BRB, aponta indícios de uma operação financeira de R$ 12,2 bilhões arquitetada por “pura camaradagem” como “tentativa de abafar a fiscalização” feita pelo Banco Central. A informação é da Agência O Globo.

Procurado, o Master não se manifestou. Em nota, o BRB disse que “sempre atuou em conformidade com as normas de compliance e transparência, prestando regularmente informações ao Ministério Público Federal e ao Banco Central do Brasil sobre todas as operações relacionadas ao Banco Master”.

Em sua manifestação sobre o caso, o Ministério Público Federal afirma que o Master “teria adquirido carteiras de crédito” de uma empresa dirigida por um ex-funcionário “sem realizar qualquer pagamento” e, logo em seguida, revendeu esses ativos ao BRB, banco público de Brasília, recebendo pagamento imediato, “resultando na transferência, de janeiro a maio de 2025, de R$ 12,2 bilhões”. De acordo com a investigação, entre julho de 2024 e outubro de 2025, BRB e Master realizaram operações que somaram R$ 16,7 bilhões. Essas transações ocorreram mesmo “diante de ressalvas formuladas pelo Banco Central”.

Ao justificar essa operação ao Banco Central, o Master informou em 25 de março deste ano que a carteira de crédito tinha como origem duas associações de servidores do estado da Bahia — que teriam sido criadas por um diretor do banco privado. Auditoria da entidade monetária, porém, constatou que “as cessões de crédito passaram a envolver CPFs de diversas localidades do país” e que as movimentações financeiras eram incompatíveis com as organizações envolvidas na transação.

Diante dessa suspeita, o Banco Central passou a realizar um pente-fino numa amostrar de 30 supostos clientes tomadores de créditos das operações cedidas pelo Master ao BRB em janeiro de 2025. A instituição constatou que não foi possível estabelecer qualquer correspondência das transações com o fluxo financeiro, o que “corrobora os indícios de insubsistência”.

A partir disso, o BRB apresentou ao BC uma nova amostra com informações de 100 contratos de créditos adquiridos do Master. Ao analisar os documentos, a entidade monetária reforçou que havia “indícios de insubsistência, que sinalizam a existência de possível engenharia contável e financeira para viabilizar a captação de recursos”.

Após o questionamento do BC, a titularidade dessas operações passou a ser atribuída à empresa Tirreno, que foi criada no final de 2024 por uma pessoa que criou outras firmas semelhantes. Após algumas alterações no contrato social, a Tirreno ampliou o seu capital para R$ 30 milhões e passou a ter como diretor um ex-funcionário do Master. As mudanças societárias, de acordo com a PF, foram registradas na Junta Comercial de São Paulo em abril de 2025, após o início da operação envolvendo o BRB.

O Ministério Público Federal destaca que o contrato inicial de parceria entre Master e Tirreno e um dos instrumentos de cessão de crédito “sequer estão autenticados em cartório”, enquanto os demais documentos da operação foram registrados formalmente apenas alguns meses depois da transação.

“Mostra-se atípico e desarrazoado que somente após a provocação do Banco Central sobre as informações, o BRB passou a exigir documentos adicionais, situação bastante suspeita para quem realizaria operação neste montante (R$ 12,2 bilhões) e que deveria se cercar de cuidados objetivos e mínimos para a viabilidade deste tipo de transação”, afirmam os investigadores.

Em nota, o BRB afirma que “reafirma seu compromisso com a ética, a responsabilidade e a integridade na condução de suas atividades”.