ECONOMIA


Exportadores do Vale do São Francisco temem prejuízo bilionário com tarifa dos EUA sobre frutas brasileiras

Taxa de 50% sobre manga e uva ameaça até 150 mil empregos na região

Foto: Divulgação

Os fruticultores do Vale do São Francisco calculam os prejuízos que podem ser causados pela tarifa de 50% que os Estados Unidos decidiram impor às exportações brasileiras de frutas. A medida, conforme o Valor Econômico, que afetará diretamente os embarques de manga e uva, estava prevista para entrar em vigor no dia 1º de agosto, mas foi adiada para o dia 6.

Segundo a Valexport (Associação dos Exportadores de Hortigranjeiros e Derivados do Vale do São Francisco), a estimativa é de que os embarques de manga para os EUA sofram uma queda de até 70%. Isso pode levar ao corte de cerca de 150 mil empregos diretos nas cadeias da mangicultura e da viticultura. A maioria das empresas afetadas são de pequeno e médio porte.

“A produção já está colhida e armazenada, e a manga da segunda safra já começou a chegar. A colheita se estenderá até meados de novembro. Os fretes já foram contratados e os custos de produção, realizados”, explicou ao Valor Econômico Tássio Lustoza Gomes, gerente-executivo da Valexport, sediada em Petrolina (PE), um dos maiores polos produtores de frutas do país. Com a nova tarifa, a expectativa é de que apenas 30% do volume inicialmente previsto consiga ser embarcado. “O primeiro navio deve sair com apenas dez contêineres”, afirma Gomes.

O Vale do São Francisco é hoje o principal polo exportador de frutas do Brasil, com destaque para a manga e a uva. Em 2024, as exportações dessas culturas para os EUA somaram US$ 87,3 milhões, segundo dados da Abrafrutas (Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados). A expectativa anterior era de crescimento de 3% nas vendas em 2025.

Além da perda de receita em dólar e da redução da fatia de mercado, o setor teme que os efeitos da tarifa resultem em demissões em massa e queda na produção. “As médias empresas, que operam com margens menores e menos poder de negociação que as grandes exportadoras, não conseguirão repassar o custo da tarifa aos clientes”, afirma Fernanda Salzedas, sócia de impostos da consultoria EY.

Especialistas apontam que buscar novos mercados pode ser uma saída para reduzir o impacto da tarifa, mas o redirecionamento de frutas frescas exige adaptações logísticas e comerciais que nem todas as empresas conseguem implementar. “O desafio é maior para produtos perecíveis como manga e uva, porque a mudança de destino implica ajustes de planejamento, contratos e transporte refrigerado. Isso é mais viável para grandes empresas com estrutura internacional”, explica Pedro Anders, sócio-líder de impostos corporativos da KPMG.

O professor Rodrigo Barreto, do Centro Universitário FEI, destaca que outros mercados potenciais, como União Europeia, Oriente Médio e Ásia, impõem exigências técnicas e sanitárias rígidas, o que limita a agilidade do redirecionamento. “A União Europeia, por exemplo, adota cotas e padrões rigorosos de resíduos. Já o Oriente Médio exige certificações Halal, e a Ásia requer logística de longo curso, com navios frigoríficos. Os volumes absorvidos são menores e as margens, também”, avalia.