ECONOMIA


Estudo global contesta queda de desigualdade celebrada pelo governo Lula

Relatório global aponta aumento da concentração de renda, enquanto nota técnica do Ipea indica menor desigualdade em 30 anos.

Foto: Roberta Aline/MDS

 

Um relatório global sobre desigualdade aponta que a renda acumulada pelos mais ricos aumentou no Brasil na última década, tornando o país levemente mais desigual entre 2014 e 2024. Batizado de World Inequality Report 2026, o documento foi produzido por um grupo internacional de economistas que inclui Thomas Piketty, afirma ainda que a desigualdade brasileira “permanece entre as mais altas do mundo”.

Segundo reportagem da BBC News Brasil, a conclusão contrasta com uma nota técnica recém-publicada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), segundo a qual a desigualdade no país caiu ao menor nível em 30 anos em 2024, impulsionada pelo aumento da renda dos mais pobres e pela redução da pobreza ao menor patamar em três décadas.

O estudo do Ipea foi celebrado pelo governo Lula, que recebeu no Palácio do Planalto a presidente do instituto, Luciana Servo, e os autores da nota técnica, Pedro Herculano Souza e Marcos Dantas Hecksher. Mas o resultado gerou controvérsia. Embora especialistas reconheçam a queda da pobreza, muitos questionam o anúncio de redução histórica da desigualdade.

Pesquisadores ouvidos pela BBC afirmam que a metodologia usada pelo Ipea não captura com precisão a renda do topo da pirâmide, o que comprometeria a medição da desigualdade. Os próprios autores reconhecem a limitação, mas optaram por divulgar os resultados, decisão que causou estranhamento entre especialistas.

A controvérsia aumenta porque um dos autores, Pedro Herculano Souza, já publicou pesquisas que, usando métodos mais apropriados para medir a renda dos mais ricos, apresentam conclusões contrárias às do novo estudo. Souza é premiado por estudos sobre desigualdade.

 Esses trabalhos anteriores indicam que a desigualdade permaneceu estável entre 2005 e 2014, período que, segundo a nota técnica do Ipea, teria registrado queda expressiva.