ECONOMIA


Economista de Harvard critica ‘tarifaço’ de Trump: ‘Pode ser autodestrutivo’

Dani Rodrik diz que sobretaxas não fortalecem a indústria americana nem geram empregos de qualidade

Foto: The White House/Divulgação

O economista Dani Rodrik, professor da Universidade de Harvard e uma das principais vozes globais sobre globalização e desenvolvimento, classificou como ineficaz e autodestrutiva a política de tarifas de importação adotada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. As declarações foram feitas durante o seminário Globalização, Desenvolvimento e Democracia, organizado pelo BNDES em parceria com a Open Society Foundations, no Rio de Janeiro, nesta semana.

Segundo Rodrik, as sobretaxas sucessivas sobre produtos que chegam aos EUA — principal bandeira da política externa de Trump — não garantem o fortalecimento da indústria americana nem melhores empregos para os trabalhadores. “Há uma boa chance de que, no final das contas, isso seja autodestrutivo”, afirmou ele à Agência Brasil.

O Brasil está entre os países afetados. Desde 6 de agosto, está em vigor a tarifa de 50% sobre parte das exportações brasileiras para os EUA. A medida atinge 35,9% das mercadorias enviadas ao mercado norte-americano, equivalentes a 4% das exportações totais do Brasil. O governo brasileiro lançou o Plano Brasil Soberano em 13 de agosto para reduzir os impactos. Cerca de 700 produtos foram incluídos em uma lista de exceções que não sofrerão a sobretaxa.

Rodrik destacou que, apesar de Trump justificar as medidas como forma de proteger empregos e reconstruir a indústria nacional, os efeitos tendem a ser limitados. “As tarifas apenas aumentam a lucratividade de certos segmentos da manufatura. Mas isso não significa mais inovação, mais investimento ou empregos de qualidade. Muitas vezes, os lucros maiores são revertidos para gerentes e acionistas, não para os trabalhadores”, avaliou. Para o economista, tarifas podem ter função temporária e complementar, mas devem estar associadas a uma estratégia doméstica robusta de estímulo à economia, como políticas industriais, sociais e de inovação.

Rodrik citou a China como exemplo de país que adotou políticas mais consistentes de proteção e incentivo interno. “A China promove seus próprios interesses nacionais acima de tudo, mas suas medidas foram, em grande parte, bem planejadas em termos de crescimento econômico.”