ECONOMIA


CNI reage com preocupação à elevação de tarifas dos EUA sobre produtos brasileiros

Medida anunciada pelo governo americano eleva alíquota para 50%; CNI cobra diálogo diplomático

Foto: CNI

A decisão dos Estados Unidos de impor tarifas de até 50% sobre produtos brasileiros causou reação do setor industrial no Brasil. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) classificou a medida como “surpreendente e injustificável”, e defendeu a intensificação imediata das negociações diplomáticas com o governo do presidente Donald Trump para preservar a histórica relação comercial entre os dois países.

“Não existe qualquer fato econômico que justifique uma medida desse tamanho, elevando as tarifas do piso ao teto. Os impactos podem ser graves para a nossa indústria, que está fortemente interligada ao sistema produtivo americano. Uma quebra nessa relação traria muitos prejuízos à nossa economia”, alertou o presidente da CNI, Ricardo Alban.

Os Estados Unidos são atualmente o terceiro principal parceiro comercial do Brasil e o principal destino das exportações da indústria de transformação brasileira. A medida, segundo a CNI, impacta diretamente cerca de 10 mil empresas brasileiras que operam no mercado americano, afetando sua competitividade em um momento de instabilidade global.

Impacto no emprego e na produção nacional

De acordo com a CNI, cada R$ 1 bilhão exportado aos EUA em 2024 foi responsável por gerar 24,3 mil empregos, R$ 531,8 milhões em massa salarial e R$ 3,2 bilhões em produção industrial no Brasil. Com o novo patamar tarifário, esses resultados estão em risco.

A entidade também divulgou dados preliminares de uma consulta realizada entre junho e o início de julho, apontando que um terço das empresas brasileiras exportadoras aos EUA já registraram impactos negativos em seus negócios mesmo antes do aumento tarifário anunciado.

A CNI defende que o caminho para solucionar o impasse deve ser o diálogo diplomático e técnico. “Sempre defendemos o diálogo como o caminho mais eficaz para resolver divergências e buscar soluções que favoreçam ambos os países. É por meio da cooperação que construiremos uma relação comercial mais equilibrada”, afirmou Alban.

Superávit estadunidense

Ao contrário das alegações do governo norte-americano, que justificou a medida sob o argumento de um desequilíbrio comercial, os dados da CNI mostram que os EUA mantêm superávit comercial com o Brasil há mais de 15 anos. Somente na última década, o superávit americano foi de US$ 91,6 bilhões no comércio de bens, chegando a US$ 256,9 bilhões ao incluir o comércio de serviços.

A CNI também refutou as alegações sobre barreiras comerciais impostas pelo Brasil. Em 2023, a tarifa real de importação aplicada pelo país aos produtos norte-americanos foi de apenas 2,7%, quatro vezes menor do que a tarifa nominal de 11,2% estabelecida junto à Organização Mundial do Comércio (OMC).

Relação de interdependência

A entidade ressalta que o comércio bilateral entre Brasil e Estados Unidos é marcado por complementariedade econômica, com intensa troca de insumos industriais. Na última década, bens intermediários representaram, em média, 61,4% das exportações e 56,5% das importações brasileiras nas relações com os EUA.

O grau de integração econômica também é evidenciado pelos 3.662 investimentos ativos de empresas americanas no Brasil e pelas 2.962 empresas brasileiras atuando em território americano. De 2013 a 2023, os EUA foram o principal destino de investimentos greenfield (novos empreendimentos) brasileiros no exterior, com 142 projetos registrados.

Diante da escalada comercial, a CNI pede que o governo brasileiro atue com firmeza para evitar o agravamento das tensões e preservar o fluxo de comércio. “É hora de defender os interesses da indústria nacional com responsabilidade, construindo soluções que não nos levem a retaliações recíprocas, mas sim ao entendimento”, concluiu o presidente da CNI.