ECONOMIA


BC diz ao TCU que identificou crise crônica de liquidez e falhas no Banco Master, além de ‘ilícitos graves’

No dia da liquidação, em 18 de novembro, a instituição dispunha de apenas R$ 4,8 milhões em caixa livre, enquanto enfrentava vencimentos imediatos de R$ 48,6 milhões em CDBs na mesma data

Foto: Divulgação/Grupo Master

O Banco Central informou ao Tribunal de Contas da União (TCU) que a decisão de decretar a liquidação do Banco Master, em novembro, foi precedida por um processo de supervisão que identificou uma combinação de crise crônica de liquidez e falhas no gerenciamento de riscos, além da prática de “ilícitos graves” no âmbito de operações de cessão de ativos a terceiros. A informação é do jornal Valor Econômico.

De acordo com a publicação, o BC enviou o documento na segunda-feira (29), em resposta aos questionamentos do Tribunal de Contas da União (TCU) no processo que apura a conduta da autoridade monetária no processo de liquidação do Master.

Segundo a autoridade monetária, o Master apresentava incapacidade recorrente de honrar compromissos de curto prazo, em especial o recolhimento de depósitos compulsórios, descumprimento que se repetiu ao longo de 2024 e 2025, em valores crescentes. No dia da liquidação, em 18 de novembro, a instituição dispunha de apenas R$ 4,8 milhões em caixa livre, enquanto enfrentava vencimentos imediatos de R$ 48,6 milhões em CDBs na mesma data.

Considerando os fluxos da semana, informa o BC, os vencimentos superavam R$ 120 milhões. Ao mesmo tempo, a exigibilidade de depósitos compulsórios alcançava R$ 2,53 bilhões, frente a um recolhimento efetivo inferior a R$ 25 milhões.

A autoridade monetária atribui a crise de liquidez a um modelo de negócios considerado “atípico e complexo”, com forte concentração em operações estruturadas de longo prazo e ativos de baixa liquidez, sem mercado secundário profundo. A dependência de funding de longo prazo, especialmente via plataformas de investimento, limitava a geração de caixa para enfrentar obrigações imediatas.

“Ainda assim, a instituição financeira manteve a contratação de operações estruturadas de longo prazo e reduzida liquidez, sem gerar fluxos financeiros relevantes”, informou o BC no documento.

A supervisão também identificou falhas no gerenciamento do risco de crédito, incluindo concessão de operações sem funding compatível, dependência excessiva de informações fornecidas por terceiros e ausência de garantias adequadas. Segundo o Banco Central, diversas operações não observavam princípios básicos de liquidez, diversificação de riscos e suficiência de capital.

Essas fragilidades levaram à necessidade de ajustes contábeis obrigatórios que, de acordo com estimativas do próprio BC, poderiam reduzir o patrimônio de referência do conglomerado em cerca de R$ 20 bilhões.

Diante da gravidade dos achados, o órgão informa ter comunicado formalmente os fatos ao Ministério Público Federal (MPF), apontando indícios de crimes contra o sistema financeiro. As comunicações envolveram suspeitas de prestação de informações falsas, gestão fraudulenta, realização de operações simuladas ou sem lastro e uso de estruturas societárias e fundos interpostos para conferir aparência de legalidade às operações.

As representações foram feitas ao longo de 2025 e reforçadas após a decretação da liquidação, à medida que novas evidências surgiram.

Ainda de acordo com o BC, a situação do Master foi agravada pela frustração das captações institucionais previstas no plano de negócios. Em 2024, o conglomerado estimava captar cerca de R$ 15 bilhões junto a investidores institucionais, mas conseguiu levantar apenas R$ 2 bilhões.

Mesmo assim, a instituição manteve a estratégia de expansão por meio de operações estruturadas e de longo prazo. Ao longo de 2025, o BC exigiu recomposição de liquidez, aportes de capital e planos de contingência, acompanhando a venda de ativos pessoais do controlador e a alienação de participações societárias.

Entre os pontos considerados mais sensíveis estão as irregularidades identificadas em operações de cessão de carteiras de crédito, especialmente envolvendo o Banco de Brasília (BRB). A supervisão apurou operações consideradas insustentáveis, sem comprovação financeira adequada ou estruturadas com o uso de artifícios contábeis para ocultar a real situação do Master.

Segundo o Banco Central, essas práticas comprometeram a qualidade dos ativos, levantaram dúvidas sobre a solvência do conglomerado e produziram reflexos negativos sobre instituições contrapartes, ampliando o risco sistêmico.

O BC argumenta ainda que que todas as alternativas de mercado previstas na legislação foram avaliadas antes da decisão final, incluindo tentativas de reorganização societária, transferência de controle e soluções privadas com participação do Fundo Garantidor de Créditos (FGC).

A principal proposta concreta, envolvendo a aquisição parcial da instituição pelo BRB, foi indeferida por não comprovar viabilidade econômico-financeira e por excluir ativos relevantes do perímetro da operação. Segundo o regulador, a liquidação extrajudicial tornou-se inevitável diante da incapacidade do banco de cumprir obrigações básicas e preservar a confiança de depositantes e investidores.

“Por fim, em 3 de setembro de 2025, o Banco Master S.A. foi comunicado da decisão do BCB que indeferiu o pedido de autorização para alteração do controle acionário, por não satisfazer o requisito de viabilidade econômico-financeira”, informou o Banco Central.