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Polícia Federal desarticula quadrilha que usava IA e funcionários da Caixa para fraudar benefícios sociais

Grupo criminoso fraudava o sistema de reconhecimento facial da Caixa Econômica e contava com a ajuda de funcionários para desviar benefícios como FGTS e Bolsa Família

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

A investigação da Polícia Federal (PF) apurou que uma quadrilha burlava o sistema de segurança da Caixa Econômica Federal para desviar benefícios sociais em um esquema criminoso que dependia diretamente da cooptação de funcionários do banco e de casas lotéricas. A ação dos criminosos dura pelo menos cinco anos. As informações são do programa Fantástico.

De acordo com a PF, o grupo utilizava sofisticadas fraudes digitais, disfarces e pessoas vulneráveis para validar cadastros falsos.

Felipe Quaresma Couto, chefe da quadrilha, foi preso na última quinta-feira (18) no bar onde trabalhava. Ele era monitorado pela PF desde 2022, mas cometia crimes desde 2020.

O grupo contava com ajuda de funcionários da própria Caixa para acessar as contas dos benefícios. O delegado da Polícia Federal no Rio de Janeiro, Wanderson Pinheiro da Silva, explicou que o grupo atuava principalmente na coação de funcionários da Caixa Econômica e de casas lotéricas. Segundo ele, apenas um funcionário recebeu mais de $ 300 mil em propina.

O funcionário fornecia acesso ao aplicativo Caixa Tem aos criminosos, permitindo a alteração de dados cadastrais e até mesmo biométricos dos titulares dos benefícios. Com o login do app, a quadrilha acessava todos os benefícios pagos pelo aplicativo Caixa Tem, como o FGTS, Bolsa Família e abono salarial.

Como o golpe funcionava

Para o plano funcionar, o funcionário da Caixa precisava apagar os dados dos beneficiários, criando um novo logo em seguida. O cadastro era reiniciado com um novo e-mail, outro celular e um novo reconhecimento facial, porém, mantendo o mesmo CPF, nome e data de nascimento da vítima. Assim, o dinheiro era desviado diretamente para os criminosos.

A maioria das pessoas lesadas pelo golpe são de baixa renda.

IA

Para burlar o sistema de reconhecimento facial, o grupo adotou diversas estratégias, entre elas, a geração de várias fotos por inteligência artificial. O especialista em reconhecimento facial da PF-RJ, Paulo Cesar Baroni, relatou que os criminosos usavam seus próprios rostos.

Para o grupo, o importante era “ser uma selfie bem tirada, bem clara, bem nítida.” “E quanto mais nova a pessoa, tá passando mais rápido”, diz uma das mensagens interceptadas pela investigação.

Os bandidos utilizavam os chamados ‘rostos virgens’, que são pessoas que nunca passaram pelo reconhecimento facial do banco. A intenção era gerar clientes falsos com dados verdadeiros roubados das vítimas. Eles conseguiam essas pessoas na rua, “pegando pessoas de vulnerabilidade social, moradores de rua mesmo, utilizando essas imagens”, explicou Wanderson Pinheiro da Silva.

A quadrilha também usava disfarces, usando perucas louras, rostos pintados de preto e alterando o corte de cabelo para gerar novas fotos de validação. “Vou até fazer a minha barba pra pintar a cara de novo”, contou um dos criminosos em uma conversa com comparsa.

Desdobramento

A Caixa Econômica informou que fez parte das investigações, denunciou e afastou os funcionários envolvidos. A instituição reforçou que o sistema de segurança e reconhecimento facial são atualizados diariamente. Atualmente, o aplicativo do Caixa Tem registra cerca de 140 milhões de usuários.

Além de Felipe Quaresma Couto, Cristiano Bloise de Carvalho também foi preso, ambos estão no Complexo de Bangu, no Rio de Janeiro. Eles responderão pelos crimes de estelionato qualificado, corrupção de funcionários públicos, inserção de dados falsos em sistema e organização criminosa.

Outros quatro integrantes do grupo estão foragidos.