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Calor extremo pode elevar taxas de homicídio no Brasil, aponta estudo

Esta é a primeira vez que esse tipo de relação é comprovado no país

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Eventos de calor extremo podem estar associados ao aumento das taxas de homicídio no Brasil. A conclusão é de um estudo publicado no American Journal of Epidemiology, que identificou crescimento médio de 10,6% nos homicídios em períodos de até oito dias com temperaturas 5 °C acima da média histórica.

É a primeira vez que esse tipo de relação é comprovado no país — fenômeno já observado em pesquisas internacionais. Para investigar a ligação entre temperatura e violência, pesquisadores analisaram dados de homicídios registrados entre 2010 e 2019 em 510 microrregiões brasileiras.

A metodologia consistiu em comparar as temperaturas nos dias em que os crimes ocorreram com outras datas semelhantes — como terças-feiras do mesmo mês e ano —, permitindo isolar o impacto do calor de outros fatores sociais ou sazonais. O estudo também utilizou um modelo que acompanha os efeitos do calor até oito dias após a alta nas temperaturas.

Vulnerabilidade

A pesquisa revelou que mulheres e pessoas com idade entre 60 e 69 anos são os grupos mais vulneráveis durante episódios de calor extremo. Nesses segmentos, o aumento nas taxas de homicídio chegou a 15,3% e 16,7%, respectivamente — acima da média da população geral.

O levantamento também aponta que a região Norte do país apresenta a maior correlação entre aumento de temperatura e homicídios. No Sul, essa relação foi mais fraca. A diferença, segundo os autores, pode ser explicada pelo fenômeno da aclimatação — ou seja, a adaptação fisiológica e comportamental ao clima.

Ademais, fatores como desigualdade social, baixa presença do Estado, criminalidade e umidade elevada funcionam como catalisadores de tensão, elevando o risco de conflitos e violência.

Teorias explicam fenômeno

A pesquisa apresenta duas teorias para justificar a associação entre calor e violência. A primeira é o modelo biológico, que aponta para o impacto do calor sobre o humor e o comportamento humano. A segunda teoria é de natureza social-comportamental.

Com o aumento das temperaturas, as pessoas tendem a sair mais de casa e se expor a situações de risco — o que aumenta a probabilidade de conflitos interpessoais e crimes por oportunidade.