BAHIA


Cidades baianas em crise gastam milhões com São João, mesmo sob estado de emergência

Bom Jesus da Lapa, Cruz das Almas e Quijingue estão entre os que contrataram atrações milionárias

Foto: Thuane Maria/GOVBA

 

Apesar de enfrentarem crises fiscais, seca prolongada e até atrasos salariais, cidades baianas mantêm altos investimentos na realização do São João 2025. Municípios como Bom Jesus da Lapa, Cruz das Almas, Quijingue e Tucano estão entre os que destinam verbas milionárias à contratação de atrações artísticas, mesmo com decretos de emergência em vigor. Com informações do jornal O Globo.

Bom Jesus da Lapa, no oeste baiano, aplicou mais de R$ 2 milhões nas festividades, parte do valor direcionado ao cantor Wesley Safadão, que lidera o ranking dos maiores cachês e também se apresenta em Cruz das Almas, Jequié e Oliveira dos Brejinhos.

Salvador lidera o investimento estadual, com R$ 18,7 milhões aplicados na contratação de 160 atrações. No interior, Cruz das Almas aparece logo em seguida, com R$ 9,5 milhões. Jequié e Irecê vêm logo depois, com R$ 8,9 milhões e R$ 7,9 milhões, respectivamente. As festas também têm incluído artistas fora da tradição junina, como o DJ Alok, que cobra R$ 750 mil por apresentação.

Plataformas de monitoramento mantidas pelo Ministério Público da Bahia têm revelado os gastos e auxiliado a população a fiscalizar o uso de recursos públicos. Os dados mostram que parte dessas cidades enfrenta dificuldades para manter serviços básicos.

Tucano, por exemplo, enfrenta efeitos severos da seca e problemas no caixa. A prefeitura adotou medidas de contenção de despesas, como a suspensão de diárias e gratificações, mas ainda assim destinou R$ 4,2 milhões ao São João, incluindo R$ 625 mil pagos à dupla Matheus & Kauan.

Em Quijingue, o município decretou emergência financeira após assumir uma dívida herdada da gestão anterior, que deixou de pagar o 13º salário de 2024. Mesmo assim, foram investidos R$ 5,2 milhões em 26 atrações. Só a dupla César Menotti & Fabiano recebeu R$ 480 mil. Para efeito de comparação, o orçamento municipal é de R$ 117 milhões, dos quais R$ 13 milhões vão para a saúde e R$ 55 milhões para a educação.

Segundo a promotora Rita Tourinho, do Ministério Público da Bahia, o controle social sobre os cachês se tornou mais rígido. Casos de cobranças diferentes para cidades vizinhas levaram os gestores a padronizarem valores por meio de acordos. “O acompanhamento pela sociedade é importante. O MP não pode impedir um evento, mas pode barrar gastos excessivos quando há falhas em serviços básicos como saúde e educação”, afirmou.

Somente na Bahia, o gasto total com atrações juninas deve ultrapassar R$ 453 milhões em 2025. São esperadas cerca de 3 mil apresentações em todo o estado, envolvendo 1.278 artistas. A maior parte dos valores é bancada com recursos dos cofres municipais.

As prefeituras citadas na reportagem foram procuradas pelo O Globo, mas apenas Vitória da Conquista respondeu, justificando que a festa foi planejada com responsabilidade fiscal e impacto positivo na economia local. As demais gestões não retornaram até a publicação.