ECONOMIA


Ouro caminha para encerrar 2025 com maior valorização em quase cinco décadas

Metal registra alta de cerca de 71% no ano, impulsionado por incertezas globais, cortes de juros e compras de bancos centrais

Foto: Reprodução/Pixabay

 

O ouro, metal precioso de alta liquidez e tradicionalmente visto como uma das principais reservas de valor e “porto seguro” do mercado global, caminha para encerrar 2025 com a maior valorização registrada em quase 50 anos, desde 1979. A informação é do portal Metrópoles.

No acumulado de 2025 até o momento, os contratos futuros do ouro negociados em Nova York avançam cerca de 71%, de acordo com dados da divisão de metais da Bolsa de Valores dos Estados Unidos.

Incerteza global fortalece o ouro
O último desempenho semelhante foi registrado há 46 anos, quando os Estados Unidos, então sob o governo de Jimmy Carter, enfrentavam um cenário de inflação elevada e crise energética. O período também foi marcado por instabilidade no Oriente Médio, com a Revolução Iraniana, a invasão soviética do Afeganistão e a assinatura de um tratado de paz entre Egito e Israel.

Quase meio século depois, o comércio internacional vive um novo ciclo de tensão e incerteza, impulsionado pelas tarifas impostas pelo governo do presidente dos EUA, Donald Trump, a diversos países, incluindo a China, segunda maior economia do mundo. O cenário reacendeu temores de uma guerra comercial em escala global.

Além disso, o mundo enfrenta uma fase de instabilidade geopolítica, com a guerra entre Rússia e Ucrânia, que já se aproxima de quatro anos, o aumento das tensões entre Estados Unidos e Venezuela e recentes confrontos envolvendo Israel e Irã. Historicamente, em períodos de incerteza, ativos considerados mais seguros, como o ouro, tendem a ganhar força.

Segundo analistas, a valorização do metal também está relacionada à busca por proteção diante das incertezas fiscais nos Estados Unidos e de um mercado acionário considerado superaquecido. O movimento ficou conhecido como “comércio da desvalorização”, com investidores migrando para ativos como ouro, prata, bitcoin e outras criptomoedas, em um afastamento das principais moedas.

Outro fator relevante foi o início do ciclo de cortes de juros pelo Federal Reserve (Fed). No início de dezembro, o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) reduziu a taxa básica em 0,25 ponto percentual pela terceira vez consecutiva, levando os juros para o intervalo entre 3,5% e 3,75% ao ano. Por não oferecer rendimento, o ouro costuma se beneficiar de ambientes de juros mais baixos.

Bancos centrais ampliam compras
A alta expressiva do ouro em 2025 também foi influenciada pelo aumento das compras do metal por bancos centrais, especialmente o da China. O país vem ampliando suas reservas com o objetivo de reduzir a dependência de ativos norte-americanos, como títulos do Tesouro dos EUA e o dólar.

Esse movimento se intensificou após a invasão da Ucrânia pela Rússia, em 2022, quando ativos russos foram congelados por países do Ocidente. Desde então, governos como os da Rússia e da China passaram a acelerar estratégias para diminuir a exposição às decisões de Washington.

Dados do Conselho Mundial do Ouro indicam que bancos centrais acumularam mais de mil toneladas do metal em cada um dos últimos três anos. Na década anterior, esse volume variava entre 400 e 500 toneladas anuais.

Trajetória de recordes
No início de 2025, os contratos futuros do ouro eram negociados em torno de US$ 2,6 mil por onça-troy em Nova York. Na quarta-feira (24), o metal atingiu US$ 4,5 mil por onça-troy, renovando seu recorde histórico.

Analistas de instituições como o JPMorgan projetam que o ouro pode ultrapassar os US$ 5 mil por onça-troy em 2026. A valorização de quase 71% em 2025 superou com folga o desempenho do índice S&P 500, que avançou 18% no mesmo período.

Além do ouro, outros metais preciosos também registram forte alta neste ano. Os contratos futuros da prata acumulam valorização de 146%, enquanto a platina sobe quase 150% e o paládio, cerca de 100%.