SALVADOR


Funcionários do Metrô Bahia denunciam adoecimento, pressão extrema e punições após testes físicos 

Relatos apontam assédio moral, jornadas exaustivas, retirada de direitos e falhas na saúde ocupacional da concessionária  

Foto: Divulgação/CCR

Funcionários da Motiva Metrô Bahia, antiga CCR Metrô Bahia, procuraram o ‘Portal A TARDE’ para denunciar condições de trabalho que, segundo eles, têm levado ao adoecimento físico e psicológico de diversos colaboradores. Entre os relatos estão acusações de assédio moral, sobrecarga de trabalho, exigências físicas excessivas e omissão da empresa diante de problemas de saúde ocupacional. 

As denúncias incluem o caso de um trabalhador atualmente afastado por questões médicas e de uma ex-funcionária que teria sido demitida enquanto estava doente. Ambos relatam um ambiente marcado por pressão constante por metas, redução do efetivo e práticas que colocariam em risco a saúde e a segurança dos empregados. 

Um dos denunciantes é Alberico da Cruz, nome fictício utilizado para preservar sua identidade. Funcionário da Metrô Bahia há alguns anos, ele afirma que não apresentava qualquer problema de saúde antes de ingressar na empresa. 

“Eu nunca tive nenhum problema de saúde antes de trabalhar aqui. Nunca precisei entregar atestado médico, nem neste emprego, nem nos anteriores”, afirmou. 

Poucos meses após iniciar as atividades, Alberico relata ter desenvolvido um quadro grave de varizes, que resultou em cirurgia ainda no primeiro ano de trabalho. Segundo ele, a situação era comum entre os colegas do mesmo posto. 

“Depois de cerca de oito meses, precisei operar. No local onde eu trabalhava, praticamente todos os colegas já tinham feito cirurgia de varizes. Éramos quatro colaboradores, todos com o mesmo problema”, contou. 

Mesmo após o procedimento cirúrgico, o trabalhador afirma que as dores persistiram. Ele relata que continuou submetido a longos períodos em pé, o que agravou o quadro, mesmo com o uso de meias de compressão. “As dores, a queimação e o cansaço nas pernas continuam até hoje”, disse.  

Lesões recorrentes e afastamentos 

Além das varizes, Alberico afirma ter desenvolvido dores crônicas nos ombros, joelhos e tornozelos, além de problemas na coluna. Ele já passou por procedimentos médicos e aguarda novas intervenções. 

Segundo o trabalhador, o adoecimento é generalizado. Ele relata encontrar frequentemente colegas da empresa em clínicas de fisioterapia, todos com lesões semelhantes. “Conheço colaboradores que já passaram por cirurgias no joelho, quadril e agora aguardam procedimento no ombro. Outros estão com exatamente a mesma lesão que a minha”, afirmou. 

 De acordo com Alberico, ao menos 21 funcionários estariam afastados atualmente por problemas de saúde. 

Pressão para retorno e ausência de CAT 

Outro ponto destacado é a atuação da área de saúde ocupacional da empresa. O trabalhador denuncia que não há investigação adequada das lesões nem emissão da Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT). 

“Quando o colaborador se afasta e tem o benefício negado pelo INSS, o que acontece com frequência, a médica do trabalho começa a pressionar pelo retorno, mesmo com atestados médicos”, relatou. 

Ele afirma ainda que laudos e relatórios de médicos assistentes seriam desconsiderados, sob o argumento de que apenas a perícia do INSS teria validade. Segundo Alberico, após o retorno, muitos trabalhadores acabam sendo demitidos em curto espaço de tempo.  

Testes físicos e punições 

Entre as principais reclamações está a realização obrigatória de Testes de Aptidão Física (TAF), que ocorreriam a cada três meses. As avaliações incluem corrida, exercícios de barra ou apoio e abdominais. 

De acordo com o denunciante, quem não obtém desempenho considerado satisfatório sofre punições imediatas. O trabalhador pode ser remanejado para a operação sem o uso do colete balístico, mesmo atuando em áreas de risco. Além disso, ocorre a mudança para a escala administrativa 5×2 e a retirada do adicional de periculosidade, atualmente no valor de R$ 628,20. 

Jornadas extensas e trabalho em pé 

Alberico também descreve uma rotina de trabalho considerada exaustiva. A escala praticada seria de 3×2, com três dias consecutivos de trabalho de 12 horas e apenas dois dias de folga. 

Dentro da jornada, segundo ele, cerca de 10 horas e meia são passadas em pé de forma contínua, sob monitoramento constante por câmeras, supervisores e lideranças. O trabalhador afirma ainda que cadeiras foram retiradas de determinados postos. 

No setor conhecido como SSO, por exemplo, a supervisão teria eliminado quase todos os assentos, mantendo apenas uma cadeira de uso restrito, permitida apenas para ajustes em computadores ou durante treinamentos obrigatórios. 

As denúncias levantam questionamentos sobre as condições de trabalho, a política de saúde ocupacional e a gestão de pessoas adotada pela concessionária responsável pelo Metrô Bahia.