ECONOMIA


Títulos públicos registram alta com pressão política e aversão ao risco no mercado local

Ativos brasileiros têm nova sessão de baixa, na contramão do exterior, que avança com dado positivo da inflação americana

Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

 

Os títulos públicos brasileiros voltaram a se descolar dos Treasuries americanos e operam com taxas em alta nesta quinta-feira (18), em um novo movimento de aversão ao risco nos ativos locais. O cenário é influenciado pela antecipação do noticiário sobre as eleições de 2026 e pela disputa cada vez mais consolidada entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o senador Flávio Bolsonaro (PL).

As taxas avançam ao longo de toda a curva de juros. O Tesouro Prefixado 2028 é negociado a 13,34% ao ano, enquanto o papel com vencimento em 2032 oferece rendimento de 13,93%. O movimento também é intenso entre os títulos indexados à inflação, com o Tesouro IPCA 2029 alcançando juro real de 8,05%, próximo da máxima do ano, de 8,08%, registrada em meados de outubro. Nos vencimentos mais longos, as taxas reais também superam os 7%.

Nem mesmo a divulgação do índice de preços ao consumidor (CPI) dos Estados Unidos abaixo do esperado, que deu suporte aos ativos americanos, com a TIP, equivalente à NTN-B no mercado norte-americano, operando em leve queda, foi suficiente para aliviar a pressão sobre a curva de juros brasileira, ainda fortemente influenciada por fatores domésticos.

O avanço das taxas ocorre após a divulgação de nova pesquisa eleitoral que reforça a possibilidade de vitória do presidente Lula em diferentes cenários de primeiro e segundo turno em 2026. Parte do mercado avalia que esse quadro aumenta a incerteza fiscal e indica a continuidade de uma estratégia baseada na elevação de receitas por meio de impostos, o que já pressionou o real na sessão anterior, somando-se à valorização global do dólar.

Também foi divulgado ao longo do dia o Relatório de Política Monetária (RPM) do Banco Central, que reiterou a avaliação de que não deve haver corte da taxa básica de juros em janeiro. “O RPM divulgado hoje tem impacto bastante limitado sobre o mercado, uma vez que o risco dominante segue sendo o risco político”, afirma Ian Lima, gestor de renda fixa da Inter Asset.

De acordo com o Itaú BBA, essa leitura já vinha sendo precificada desde a última reunião do Copom, levando os investidores a revisar as expectativas para o início do ciclo de flexibilização da Selic. O ajuste reduziu o apetite por risco no curto prazo e abriu espaço para a realização de lucros acumulados nos últimos meses.