ECONOMIA


Projeções do mercado indicam Selic acima de dois dígitos em 2026

Analistas citam expansão fiscal e cenário eleitoral como fatores que limitam cortes de juros no próximo ano

Foto:Marcello Casal Jr/Agência Brasil

 

Projeções divulgadas por instituições financeiras apontam que a taxa Selic deve permanecer acima de 12% em 2026. Segundo relatórios do mercado, o aumento das despesas públicas previstas para o próximo ano, sobretudo ações de impacto fiscal em período eleitoral, reduz o espaço para cortes significativos de juros, mesmo com expectativa de início de afrouxamento monetário entre janeiro e março.

A taxa básica está em 15% ao ano e deve ser mantida na última reunião do Copom, diante da inflação de serviços ainda elevada e das expectativas acima da meta para 2025 e 2026. Analistas destacam que, com o mercado de trabalho aquecido e a capacidade produtiva próxima do limite, estímulos fiscais adicionais tendem a pressionar preços e retardar a queda da Selic.

Casas de investimento, como XP, Genial e UBS, apontam que a política fiscal mais expansiva para 2026 aumenta o risco de inflação, limita a trajetória de cortes e pode gerar um ciclo de crescimento de curto prazo seguido por necessidade de juros mais altos. Projeções de dívida pública também preocupam o mercado: estimativas variam de 82% a 84% do PIB para o fim de 2026.

O setor produtivo relata dificuldades com crédito caro e seletivo, enquanto indicadores de atividade mostram desaceleração. O PIB do terceiro trimestre cresceu 0,1%, e o consumo das famílias perdeu força. Já o consumo do governo avançou 1,3% no período, impulsionado por despesas obrigatórias.

O cenário de política monetária também é influenciado pela transição no Banco Central, com saída de diretores e o fim do uso das chamadas “setas”, mecanismo de sinalização prévia sobre os próximos passos da taxa Selic. A mudança aumenta a incerteza quanto ao ritmo dos cortes.

No ambiente externo, possíveis reduções de juros nos Estados Unidos podem aliviar pressões cambiais, mas analistas destacam que a volatilidade eleitoral no Brasil tende a influenciar o comportamento do dólar em 2026.

Para especialistas consultados pelo mercado, a redução estrutural dos juros depende de avanços na área fiscal. Sem mudanças que desacelerem o crescimento das despesas, há risco de dominância fiscal, situação em que a política monetária perde eficácia diante da deterioração das contas públicas.