POLÍTICA


Deputado chama PL Antifacção de ‘PEC da Bandidagem 2.0’ e diz que PL protege chefes do crime organizado

Jorge Solla (PT-BA) afirma que texto relatado por Derrite enfraquece a PF, blinda lideranças de facções e desmonta operações de sucesso

Foto: Divulgação/Assessoria

 

O deputado federal Jorge Solla (PT-BA) classificou o PL Antifacção como “PEC da Bandidagem 2.0” e afirmou que o texto aprovado na Câmara protege chefes do crime organizado. Em entrevista ao MundoBA, Solla criticou o teor do projeto, que foi modificado em seis versões apresentadas pelo relator, Guilherme Derrite (PP-SP).

A votação representou uma derrota para o governo Lula (PT), que tentou adiar a apreciação da proposta por discordar das mudanças. O PL segue para o Senado.

Para Solla, a proposta reedita o “retrocesso” da antiga “PEC da Bandidagem” — como ficou conhecida a PEC da Blindagem, que buscava limitar investigações contra parlamentares e acabou rejeitada no Senado.

“A mesma base que votou na ‘PEC da Bandidagem’ votou na ‘PEC da Bandidagem 2.0’ [PL Antifacção]. Eles transformaram o texto em um projeto de blindagem, de proteção ao crime organizado”, disse Solla.

De acordo com o parlamentar, o projeto relatado por Derrite “enfraquece a Polícia Federal, fragiliza a Receita Federal, o controle das aduanas e dificulta a retirada do patrimônio financeiro, imobiliário e equipamentos que forem apreendidos”.

“O projeto interrompe ações vitoriosas como o Carbono Oculto, o Banco Master. Eles protegem o líder do crime organizado, dificultam a ação dos órgãos de segurança, retiram recursos do combate ao crime organizado”, declarou o deputado baiano.

O petista também rechaçou a escolha de Derrite para o posto de relator do PL Antifacção. “Eles transformaram um PL que visava combater o crime e fortalecer as ações dos órgãos de segurança, em um projeto que vai fragilizar os órgãos principais de segurança, no caso a Polícia Federal e a Receita Federal. O relator foi escolhido justamente para detonar o’que é mais forte nesse projeto”, afirmou o deputado.

Solla afirmou torcer para que o projeto “tenha o mesmo fim da ‘PEC da Bandidagem’”, sepultada após protestos pelo país em setembro. Ele defende que a população faça mobilizações semelhantes contra o avanço do PL Antifacção.

“Nós precisamos fazer isso acontecer [manifestações]. A maioria das pessoas não parou para ler o projeto. Então nós precisamos fazer esse primeiro movimento, esclarecer a população, mostrar que esse projeto fragiliza a atuação dos órgãos de segurança, especialmente a Polícia Federal, tira recursos do combate ao crime, dificulta aprender engenheiro e patrimônio do crime. Vai dificultar muito o sucesso de operações, como o Carbono Oculto.”

Para Solla, o endurecimento de penas previsto no projeto atingirá apenas “arraias miúdas” do crime organizado. “O aviãozinho é preso, fica lá 10 anos, 20 anos de cadeia. [O líder da organização] contrata barato outro, na rua, por R$ 10. Não é assim que funciona?”, questiona o deputado.

De acordo com ele, o enfrentamento deve mirar “no bolso” das facções, e não “matando pessoas na rua”.

“Se você não for atrás do dinheiro que os caras ganham no crime e interromper, eles se infiltraram no mercado financeiro. Fizeram operações com o Banco Master, fizeram operações com o Faria Lima. O sucesso do combate ao crime organizado não é só ficar dando tiro em passinho, matando 100, 200 pessoas na rua”.

Jorge Solla afirma que o PL Antifacção está sendo patrocinado para “facilitar a vida do chefe do crime e dos seus operadores no mundo da política”.