ECONOMIA


Aumento da energia solar provoca desequilíbrio no sistema elétrico e risco de apagão

Geração distribuída está desafiando o controle do ONS e gerando cortes significativos na produção de grandes usinas

Foto: José Cruz/Agência Brasil

 

O crescimento acelerado da geração de energia solar no Brasil vem provocando um desequilíbrio no sistema elétrico nacional, com impacto financeiro e risco de apagões. De acordo com o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), o avanço da geração distribuída — feita por consumidores com painéis solares instalados em residências e comércios —tem dificultado o controle da oferta e da demanda, obrigando cortes significativos na produção de grandes usinas.

No último dia 10 de agosto, data que ficou marcada como um alerta para o setor, o país enfrentou uma situação crítica, conforme reportou o jornal O Estado de S. paulo. Em pleno Dia dos Pais, com temperaturas baixas e queda no consumo de energia, a geração solar continuava em alta. Para evitar o colapso do sistema, cerca de 90% da produção precisou ser cortada e diversas usinas foram desligadas.

Diferentemente da crise de 2001, quando o país enfrentava escassez de energia, o problema agora é o oposto: há excesso de geração e demanda reduzida. O ONS explica que a energia produzida diretamente pelos consumidores não pode ser regulada — ou seja, não é possível aumentar ou reduzir a produção conforme a necessidade do sistema. Isso obriga o operador a cortar a geração de usinas eólicas e solares conectadas à rede nacional, num processo conhecido como curtailment.

Segundo a presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), Elbia Gannoun, a geração distribuída deve ser “marginal, e não determinante”. Entre outubro de 2021 e agosto de 2025, o setor deixou de produzir 39 terawatt-hora, o equivalente ao consumo anual de toda a região Nordeste, gerando prejuízo estimado em R$ 6 bilhões — metade apenas em 2025.

O ONS projeta que, até 2029, apenas 45% da capacidade instalada do país estará sob sua coordenação direta, deixando 55% sem gerenciamento. Para especialistas, o cenário exige políticas de planejamento e integração capazes de garantir a expansão equilibrada da energia solar sem comprometer a estabilidade do sistema elétrico.